16 de mai. de 2015

8.

"You can't stop this girl from falling more in love with you..." - Stop The World.
2008
 Minha amizade com Demi começou a ficar estranha. Não costumávamos ter espaço entre nossas conversas, mas agora tinha. Poderíamos falar de namoro, mas agora não podíamos mais. Se ela falasse do Alex, eu ficava irritada, se eu falasse que qualquer garota de NY, ela ficava irritada. E a tensão era quase sempre presente em nossas conversas. Aquilo estava acabando comigo, não queria ficar assim com minha melhor amiga, a pessoa que eu amava e confiava mais do que todos nesse mundo.
- Ainda com o problema do beijo? – Jess era minha companheira de quarto naquela época, vendíamos quadros juntas, pintávamos juntas, era minha única amiga, claro, fora Demi. Havia contado para ela sobre o beijo, Jess sempre tinha os melhores conselhos.
- Sim – disse limpando as mãos no avental. Estávamos no quarto que servia de ateliê, sempre que estava com problema ou apenas tendo inspiração ia até lá e começava a pintar. 
- Então decidiu pintar? – ela perguntou olhando para o quadro que eu havia pintado – Ela?
- Não consigo tirá-la da cabeça – respondi também olhando para a tela – Costumo pintar para esfriar a cabeça, mas sempre que pego em um pincel, seu rosto vem em minha cabeça.
- Isso se chama...
- Não fale – disse olhando-a – Eu e Demi somos... Ela é minha melhor amiga, não podemos...
- E porque você não para de pensar nela? – Jess perguntou cruzando os braços. – Aquele beijo mexeu com você, não foi? Então você não para de pensar nele, e o pior de tudo, como quer sentir os lábios dela novamente.
- Quem é você? Deus? – perguntei sorrindo. – O que eu faço? Nossa amizade está indo para o buraco e eu não sei o que fazer. 
- Talvez amizade esta indo para o buraco, porque o que vocês sintam não seja só amizade.
- E eu devo fazer o que? – perguntei.
- Sei lá, conversar com ela – Jess disse e então escutamos a campainha tocar – Deve ser o Charlie, iremos comemorar dois anos de namoro.
- Feliz aniversario de namoro para vocês! – gritei vendo-a sair, peguei o pincel e olhei para o quadro.
- O que esta fazendo com minha cabeça, Demetria? – disse e voltei a pintar, terminando os detalhes do seu sorriso que era a melhor coisa nela.
- Belo quadro – ouvi atrás de mim, porém não virei-me para olhar quem era, estava bastante concentrada – Quem é?
- Uma amiga – respondi querendo encerrar o assunto.
- Como é o nome dela? – a pessoa perguntou novamente, revirei os olhos, porém respondi.
- Demetria.
- E ela mora aqui? – voltou a perguntar, decidi mandar a pessoa embora, senão acabaria errando alguma coisa, virei-me e deixei o pincel cair de minhas mãos por conta da surpresa.
- Demi?! – não sabia se chorava, gritava ou a abraça – O que esta... Como...?
- Uma pergunta de cada vez – ela disse sorrindo – Preciso de um abraço agora.
- Nem precisa pedir duas vezes – respondi e corri para seus braços. O abraço foi diferente naquele dia, sentíamos saudades uma da outra, era claro, porém de uma forma diferente. Não queria solta-la e muito menos ela queria isso, então ficamos abraçadas ali, com meu avental com respingos de tinta sujando sua roupa.
- O que esta fazendo aqui? – perguntei quando finalmente nos separamos – Vem, vamos sair daqui.
- Não, é a primeira vez que estou aqui – ela disse olhando em volta – É lindo.
- Eu sei, mas não é lugar para visitas, principalmente uma visita como essa – disse tirando o avental e jogando em cima de uma cadeira. A puxei porta a fora, seguindo para a sala.
- Então, me conte tudo – disse indo até a cozinha e pegando duas cervejas.
- Peguei o carro e vim fazer uma visita – ela respondeu assim que me sentei ao seu lado – Você sempre ia para Albuquerque me ver, porque não ir até New York para ver você?
- Ótima resposta – respondi dando um gole em minha cerveja – Agora me conta o real motivo.
- Quero conhecer o local – ela respondeu – Já que pretendo me mudar para cá em breve.
- Você não esta falando serio.
- Mas sério que isso, só meu pai me mandando fazer medicina – ela respondeu e não pude evitar o sorriso.
- Isso é tão incrível – disse – Quanto tempo você pretende ficar?
- Até ele perceber que não estou indo a faculdade e perceber que seu carro sumiu.
- Ótimo então, até que ele não perceba, temos que comemorar – disse levantando-me.
...

 Eu não era muito fã de festas, sempre que eu, Jess ou Charlie saímos íamos a um pub no mesmo quarteirão, lá era onde todos os artistas de rua se encontravam. O lugar era bem diferente, era um local pequeno, as únicas luzes eram dos abajures que ficavam em cima das mesas e algumas luzes que ficava nas paredes, mesmo assim o local era bastante mal iluminado, havia varias mesas espalhadas pelo local e bem no fim havia um pequeno palco onde qualquer pessoa – qualquer pessoa mesmo – podia subir lá e cantar. Poderíamos ir a uma boate de NY, porém preferíamos esse lugar, era o nosso lugar. 
- Bem vinda à casa dos artistas de rua – disse adentrando no local, eram nove da noite e o pub estava cheio, havia uma banda que cantava – muito bem por sinal – It’s My Life do Bon Jovi. Sentamos em mesa perto do palco, eu, Demi, Jess e Charlie.
- Então Demi, é um prazer finalmente conhece-la – Charlie disse sorrindo.
- Finalmente conhecemos a garota que (SeuNome) vive falando – Jess disse amigavelmente – Demi isso, Demi aquilo, você tem que ver.
- Cala a boca, Jessica – disse revirando os olhos.
- Mas é verdade – Jess disse – Enfim, o que você faz lá em Albuquerque, Demi?
- Estou na faculdade – Demi respondeu – De medicina.
- Pelo menos não é direito – Charlie falou e começou a rir, logo Jess se juntou a ele.
- Me deixa adivinhar, seu pai te pediu isso, certo? – Jess disse depois de recompor. 
- Exatamente – ela respondeu um pouco incomodada, lancei um olhar nada agradável para Jess.
- Iremos pedir as bebidas – Charlie falou e logo seguiu com Jess para o bar.
- Eles são fofos juntos – Demi disse após ele saírem.
- É, mas tenho que sair do apartamento quando eles estão “animados” – disse e a vi sorri.
- E você? Quer dizer, eles também não tem que sair quando você esta “animada”? 
- É diferente – disse dando de ombros – Não vou para o apartamento. 
- Porque não?
- Vamos mesmo falar sobre isso? – perguntei encarando-a, Demi assentiu e virou-se. – Não ficou com raiva, né?
- Não, tudo bem – Demi disse, porém sabia que ela estava – Sabe, não sei se esta reparando, mas nossa amizade anda estranha. 
- Eu reparei sim – disse e Demi virou-se para mim – Isso começou depois do...
- Do beijo? Acho que não – Demi disse e arqueou as sobrancelhas – Ta, foi sim depois do nosso beijo.
- Acho... – comecei, porém fui interrompida, não pode Demi, mas sim por Jess.
- (SeuNome)! – ela chamou, olhei e a vi vindo em nossa direção, logo atrás Charlie tentava se equilibrar para as quatro bebidas que trazia para não cair.
- O que foi? – perguntei.
- Adivinha quem está aqui – ela disse, arqueei as sobrancelhas confusa.
- Quem?
- Sério que você não tem nenhuma ideia? – ela perguntou desapontada.
- Fala logo, Jess – disse impaciente.
- Maya Santine – Jess respondeu e eu arregalei os olhos. Maya foi à primeira mulher que eu havia me envolvido realmente, havia ficado com algumas garotas, porém nunca namorado, Maya foi minha primeira namorada. 
- Cadê aquela vadia? Quero dá na cara dela – Demi disse irritada, a encarei.
- Ei calma, Demi – disse sorrindo – Você não irá bater em ninguém.
- Até porque ela esta vindo para cá – Charlie disse e virei-me e realmente Maya estava vindo em nossa direção, os cabelos pretos soltos, a pele bronzeada, aquelas curvas... 
- (SeuNome)? – ela disse parando perto da nossa mesa – Meu Deus, que coincidência.
- Que filha da puta – ouvi Demi sussurrar, mordi o lábio para não sorri e levantei-me.
- Maya – disse cumprimentando-a – Pura coincidência, afinal foi aqui que nos conhecemos.
- Podemos conversar? – ela perguntou um pouco envergonhada.
- Não posso – disse voltando a me sentar – Não posso fazer uma desfeita dessas com meus convidados.
- Prometo não demorar – ela insistiu.
- Não ouviu o que ela disse? – Demi disse irritada.
- Não, quer saber? Vou ouvir o que você tem a dizer – disse levantando-me, Maya sorriu vitoriosa – Cinco minutos.
- Obrigada – ela pediu e logo seguimos para o bar, olhei por cima do ombro e Demi estava lançando um olhar mortal para mim. Chegamos até o bar, sentei-me em um banco e logo Maya fez o mesmo.
- Então, o que quer? – perguntei.
- Eu queria pedir desculpas – ela disse – O que eu fiz com você não foi certo...
- Acabou com o showzinho?
- Estou falando serio, (SeuNome) – ela disse desviando o olhar para o chão – Eu realmente estou arrependida por ter feito... Não foi certo sumir no dia seguinte, eu sinto muito.
- Certo, aceito suas desculpas – disse e a vi me encarar surpresa, mesmo assim logo depois sorriu – Amigas, certo?
- Amigas? – ela falou desanimada, assenti e a vi aproximar – Estava pensando em...
- Em nada – disse afastando-me – Agora vou voltar, adeus Maya.
 Virei-me e segui em direção a mesa, Demi tinha um sorriso de lado, com certeza viu o que tinha feito, sorri para ela, porém senti alguém puxar-me pelo o braço e eu sabia muito bem quem era. A conheci não só por seu perfume, mas pelo os seus lábios, era Maya quem havia me puxado e me beijado. 
- Sabia que você não resistiria – Maya sussurrou perto do meu ouvido.
- Você que não resistiu ao meu charme – respondi balançando a cabeça negativamente e indo em direção a mesa, porém apenas Jess e Charlie estavam sentados.
- Onde esta a Demi? – perguntei sentando-me e logo vi Maya fazer o mesmo.
- Ela saiu – Jess respondeu bebendo um pouco de sua bebida.
- Para onde? – perguntei e peguei minha bebida.
- Não sei, ela ficou vermelha e saiu – foi Charlie quem respondeu. Levantei-me rapidamente, Demi havia ficado com ciúmes, isso era fato, mesmo assim não sabia se ficava feliz por isso, ou se ficava preocupada, já que ela estava por aí sozinha, em uma cidade que mal conhecia.
- Vou procura-la – disse e olhei para Maya – Volto já. 
 E logo sai em direção a saída, avistei Demi sentada no meio fio, me aproximei e sentei-me ao seu lado.
- Cansou da vaca? – ela perguntou revirando os olhos. 
- Sabia que você fica super fofa com ciúmes – disse e a vi encarar-me com as sobrancelhas arqueadas.
- E quem disse que eu estou com ciúmes? – ela perguntou e eu sorri – Para de sorrir, idiota!
- Vamos voltar lá para dentro – disse levantando-me.
- Quero ir embora – ela disse sem olhar-me.
- Acabamos de chegar, Demi – disse.
- Mas eu quero ir, você vai me deixar sim ou não? – Demi perguntou finalmente olhando-me – Já entendi, não vai, okay, me passa o endereço.
- Não passo não – disse e me agachei ao seu lado – Viemos comemorar a sua visita a NY, não vou deixá-la...
- Você já deixou, (SeuNome) – ela respondeu seca, engoli o seco e levantei-me.
- Irei buscar a chaves do carro – disse encarando o chão.
- Quer saber? Não precisa, esqueci que tenho o endereço – ela disse levantando-se, mordi o lábio e finalmente a encarei.
- Te vejo depois – respondi, Demi forçou o sorriso e deu sinal para o táxi, logo um carro amarelo parou, Demi abriu a porta e olhou-me.
- Tchau – disse vendo-a adentrar no táxi e logo o mesmo deu partida.
 Não consegui me animar naquela noite, nem mesmo Maya me animou, disse que não estava a fim de nada e ela foi embora, pelo menos não a vi mais no pub naquela noite. A única coisa boa foi que eu havia bebido, Jess e Charlie já estavam bêbedos e cantavam uma musica do R.E.M em cima do palco, sabia que depois dali eles iram dizer que estavam cansados e iriam para casa, só que eles não estavam cansados, só queriam ir para casa e fazer sexo. 
 Quando cheguei em casa, Jess e Charlie foram para o quarto e eu fui para o meu, Demi estava dormindo na cama. Tomei um banho bem demorado, vesti uma roupa confortável e deitei-me.
- O que esta fazendo? – ouvi Demi sussurrar, não pude deixar de sorrir.
- Deitando na cama para dormir? – sussurrei perto de seu ouvido.
- A noite não foi boa? O que aconteceu com a Maya?
- Sério mesmo que você vai discutir uma hora dessas? – perguntei e a vi virar-se para encarar-me.
- Desculpe por agir daquela forma – Demi falou baixo, sorri e me aproximei mais dela.
- Eu entendo – respondi escutando sua respiração – E foi totalmente fofo.
- Ciúmes não é fofo.
- Então você assume que sentiu ciúmes – sussurrei, mas queria gritar naquela hora, mesmo com as luzes apagadas sabia que qualquer pessoa poderia ver meu sorriso.
- Assumo e com muito orgulho.

Um comentário:

  1. Cada capítulo mais perfeito que o outro, amo esses flashback, está incrível

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