"I can't set my hopes too high, 'cause every 'hello' ends with a 'goodbye.'" - Catch Me.
2008.
Acordei naquela manhã sentindo algo que nunca tinha sentido. Algo no peito, uma felicidade, que na verdade não durou tanto. Assim que virei-me, Demi não estava ao meu lado, claro que fiquei um pouco desapontada, esperava vê-la ali, talvez sorrindo ou até mesmo dormindo. Levantei-me, fiz minha higiene matinal e fui para cozinha, talvez ela estivesse tomando café.- Bom dia – disse assim que vi Jess e Charlie sentados à mesa. – Onde está Demi?
- Não sei, ela dormiu com você, porque eu saberia? – Jess perguntou tomando um pouco de café. E foi aí que minha felicidade, aquele “algo” no peito desapareceu. Demi tinha fugido, não tinha falado comigo ou deixado algo escrito, nada, só saiu antes que todo mundo acordasse, pra ninguém vê-la. Acho que você pode imaginar o que eu fiz ou como fiquei. Eu estava realmente sentindo algo a mais por Demi, depois daquela festa – principalmente depois daquela festa – eu não a vi mais só como minha melhor amiga, eu sentia algo que eu não sabia explicar. Liguei para ela, mandei e-mails, até mesmo cartas e nada, ela não respondia nada. Eu fiquei bastante deprimida, não saia mais do quarto e muito menos pintava, o que era uma coisa rara, afinal quando estava deprimida eu costumava a pintar, mas nem isso eu tinha vontade. E aquilo estava me deixando louca, estava me deixando de um jeito que eu não me reconhecia mais. Jess e Charlie chamaram até mesmo Maya, e nem ela conseguiu me tirar daquele quarto.
- Já chega! – já tinha passado uma semana naquele quarto, sem ver o sol ou pessoas – Está na hora de você fazer algo, (SeuNome).
- Eu não quero fazer algo – disse cobrindo-me com o cobertor, porém logo o senti sendo arrancada de mim.
- Você precisa parar com isso! – Jess disse impaciente – Já faz uma semana que você não sai da merda desse quarto, mal come e me diz a ultima vez que você tomou banho?!
- Jessica... – comecei, mas não tinha nada para argumentar, Jess estava falando a verdade.
- Você não deve ficar assim por ela, (SeuNome) – ela disse cruzando os braços – Demi deve está no braço daquele garoto... Como é nome dele?
- Alex – respondi e logo ela assentiu.
- Isso, Alex – Jess disse – Demi deve está com ele, enquanto você está nesse quarto que cheira a repolho estragado sem vontade de fazer nada, nem mesmo pintar.
- O que eu posso fazer? – disse suspirando – Ela vem até aqui, sente ciúmes da Maya e até confessa, aí depois simplesmente desaparece? Não atende minhas ligações, nem e-mails, nada!
- Você tem que resolver isso de uma vez por todas!
- Como?
- Fale com ela! Se for preciso, vá até Albuquerque e fale tudo isso que acabou de dizer para mim! – Jess disse jogando as mãos para cima, suspirei e desviei o olhar. Jess estava certa, Demetria não poderia simplesmente aparecer aqui, mexer com minha cabeça e depois ir embora sem dá satisfações. Levantei-me rapidamente e segui em direção ao banheiro.
Como da ultima vez, eu fui de carro até Albuquerque, só que dessa vez eu estava mais ansiosa do que o normal. Iria dizer tudo a Demi, tudo mesmo. O que senti com o beijo, como eu não parava de pensar nele um só minuto e que amei vê-la com ciúmes. Não passei em casa como da ultima vez, assim que cheguei a Albuquerque fui logo para a faculdade de Demi, fiquei esperando-a por horas e horas, até finalmente ver os alunos saindo. Foi quando eu a vi, meu coração quase pulou para fora do peito, por um segundo pensei em sair daquele carro correndo. Mas algo aconteceu. Alguém agarrou Demi por trás, virando-a e selando seus lábios. Não sei bem o que senti naquela hora, talvez tristeza e ao mesmo tempo raiva. Reconheci aquele franja loira caindo em sua testa, aquele ar de superior, Alex. A única coisa que fiz foi ligar o carro e sair dali. Eu sempre fui cuidadosa quando o assunto era transito, não havia esquecido a maneira que minha mãe havia morrido, porém naquele dia eu nem estava pensando nisso. Só queria ir para bem longe de Demi e aquele idiota do Alex. Ela foi embora sem deixar explicações para ficar com ele, com certeza teria ido a New York só para me contar e não teve coragem. Parei o carro de qualquer maneira em frente ao supermercado e desci. Peguei uma caixa de cerveja e vários salgadinhos, não iria para casa porque ela poderia ir lá e a ultima que queria era falar com ela. Havia pegado tudo que queria e segui em direção ao caixa, paguei e segui em direção ao estacionamento.
- (SeuNome)? – ouvi atrás de mim e reconheci aquela voz, respirei fundo e continuei andando em direção ao carro – (SeuNome)!
Joguei as sacolas no banco carona e adentrei no carro, olhei para o lado e a vi encarando o carro, Demi estava paralisada e seu olhar era uma mistura de confusão e surpresa, balancei a cabeça negativamente e liguei o carro seguindo para o monte que eu havia levado alguns meses antes.
***
Estacionei o carro em frente de casa e sai andando até os fundos. Iria embora na manha seguinte, não suportava mais Albuquerque e jurei que nunca mais pisaria ali. Olhei e vi que não havia ninguém na cozinha talvez Dolores estivesse de folga hoje, sabia que papai não estava em casa, por isso iria dormir e de manha cedo iria partir para NY. Segui para meu quarto e joguei-me na cama, olhei para o relógio no pulso e vi que eram seis horas. Eu poderia dirigir até NY, mas estava muito cansada e havia bebido algumas cervejas, dirigir do monte até aqui não era assim tão perigoso, havia pouco movimento tanto de carros como de pessoas.
Meus olhos estavam pensando quando ouvi a campainha tocar, pedi para Dolores surgir e atender, mas ela não estava em casa, então decidi que a pessoa tocasse até se ligar que não havia ninguém em casa, mas meu carro estava estacionado em frente de casa. Suspirei e desci as escadas me arrastando, respirei fundo e abri a porta. Eu deveria ter imaginado, ela não sossegaria até falar comigo, perguntar por que eu não falei com ela quando nos encontramos no supermercado.
- Olá – disse dando um sorriso falso.
- Posso entrar? – ela perguntou, dei de ombros e andei em direção a sala – Porque não está em New York?
- Que bela maneira de me receber – disse jogando-me no sofá, Demi foi para frente da TV e ficou um tempo encarando-me – O que foi?
- Porque não falou comigo lá no supermercado? E porque você está aqui e não em NY? – ela começou.
- Não vi você no supermercado e estou aqui porque tenho algumas coisas para resolver – respondi, Demi revirou os olhos e bufou.
- Você está mentindo – esse é o problema das melhores amigas, elas nos conhece até melhor que nos mesmos.
- É sério, não vi você lá – disse o mais convincente possível, sabia mentir muito bem, mas como disse Demi era minha melhor amiga e me conhecia como ninguém.
- E o que você está fazendo aqui?
- Já disse, vim resolver alguns problemas – disse – Você deveria saber, mas esqueci que não atendeu minhas ligações e muito menos respondeu meus e-mails.
- Não venha mudar de assunto – Demi disse defensiva. – Estamos falando de você...
- Não, você está falando de mim – respondi irritada – Se não se incomoda, tenho que dormir porque amanha vou viajar cedo.
- Você está me expulsando? – Demi perguntou sem acreditar, levantei-me e fui até a porta, abrindo-a.
- Entenda como quiser, Demi – disse revirando os olhos, Demi encarou-me por alguns minutos, assentiu e seguiu até a saída, porém antes de sair olhou-me.
- Eu sei que você estava na porta da faculdade – ela disse – E sim, eu e Alex estamos juntos.
Isso foi como uma facada, uma não, varias. Demi não poderia ser mais cruel, senti um nó na garganta, respirei fundo e segui até o quarto. Não aguentaria ficar ali nem mais um dia, tinha que ir embora o mais rápido possível, Albuquerque não era minha casa mais, não significava nada para mim, peguei minha bolsa e sai do quarto.
- Vai para algum lugar, querida filha? – o dia não poderia ficar melhor, virei-me e o vi encarando-me.
- Pai – disse acenando com a cabeça, então ele estava ali o tempo todo? Será que havia me visto entrando em casa? Será que ouviu a conversa com Demi? – O senhor estava aí o tempo todo?
- Não respondeu minha pergunta – ele disse sério.
- Só vim... Havia algumas coisas minhas que eu não tinha levado para NY e... – comecei.
- Eu deveria está gritando com você agora por causa daquela festa – ele disse dando alguns passos em minha direção – Aqueles adolescentes inconseqüentes bêbados na minha sala, não foi um dia agradável para mim e com certeza para eles.
- Eu sinto muito – disse – Não irá se repetir.
- E não irá mesmo – ele disse assentindo.
- Vou embora agora e não volto até, sei lá, para sempre – disse e o vi sorrir.
- Você pode fazer isso, mas não agora – ele falou – Seus avôs vem para cá, visitar você e, bem, você não vê seus avôs há anos, certo?
- E quando eles vem?
- Sexta – papai respondeu – E voltam domingo.
- Isso quer dizer que eu...
- Sim, vai ter que passar o final de semana aqui.