28 de mai. de 2015

10.

"I can't set my hopes too high, 'cause every 'hello' ends with a 'goodbye.'" - Catch Me.
2008.
 Acordei naquela manhã sentindo algo que nunca tinha sentido. Algo no peito, uma felicidade, que na verdade não durou tanto. Assim que virei-me, Demi não estava ao meu lado, claro que fiquei um pouco desapontada, esperava vê-la ali, talvez sorrindo ou até mesmo dormindo. Levantei-me, fiz minha higiene matinal e fui para cozinha, talvez ela estivesse tomando café.
- Bom dia – disse assim que vi Jess e Charlie sentados à mesa. – Onde está Demi? 
- Não sei, ela dormiu com você, porque eu saberia? – Jess perguntou tomando um pouco de café. E foi aí que minha felicidade, aquele “algo” no peito desapareceu. Demi tinha fugido, não tinha falado comigo ou deixado algo escrito, nada, só saiu antes que todo mundo acordasse, pra ninguém vê-la. Acho que você pode imaginar o que eu fiz ou como fiquei. Eu estava realmente sentindo algo a mais por Demi, depois daquela festa – principalmente depois daquela festa – eu não a vi mais só como minha melhor amiga, eu sentia algo que eu não sabia explicar. Liguei para ela, mandei e-mails, até mesmo cartas e nada, ela não respondia nada. Eu fiquei bastante deprimida, não saia mais do quarto e muito menos pintava, o que era uma coisa rara, afinal quando estava deprimida eu costumava a pintar, mas nem isso eu tinha vontade. E aquilo estava me deixando louca, estava me deixando de um jeito que eu não me reconhecia mais. Jess e Charlie chamaram até mesmo Maya, e nem ela conseguiu me tirar daquele quarto. 
- Já chega! – já tinha passado uma semana naquele quarto, sem ver o sol ou pessoas – Está na hora de você fazer algo, (SeuNome).
- Eu não quero fazer algo – disse cobrindo-me com o cobertor, porém logo o senti sendo arrancada de mim.
- Você precisa parar com isso! – Jess disse impaciente – Já faz uma semana que você não sai da merda desse quarto, mal come e me diz a ultima vez que você tomou banho?!
- Jessica... – comecei, mas não tinha nada para argumentar, Jess estava falando a verdade.
- Você não deve ficar assim por ela, (SeuNome) – ela disse cruzando os braços – Demi deve está no braço daquele garoto... Como é nome dele?
- Alex – respondi e logo ela assentiu.
- Isso, Alex – Jess disse – Demi deve está com ele, enquanto você está nesse quarto que cheira a repolho estragado sem vontade de fazer nada, nem mesmo pintar.
- O que eu posso fazer? – disse suspirando – Ela vem até aqui, sente ciúmes da Maya e até confessa, aí depois simplesmente desaparece? Não atende minhas ligações, nem e-mails, nada!
- Você tem que resolver isso de uma vez por todas! 
- Como? 
- Fale com ela! Se for preciso, vá até Albuquerque e fale tudo isso que acabou de dizer para mim! – Jess disse jogando as mãos para cima, suspirei e desviei o olhar. Jess estava certa, Demetria não poderia simplesmente aparecer aqui, mexer com minha cabeça e depois ir embora sem dá satisfações. Levantei-me rapidamente e segui em direção ao banheiro.
 Como da ultima vez, eu fui de carro até Albuquerque, só que dessa vez eu estava mais ansiosa do que o normal. Iria dizer tudo a Demi, tudo mesmo. O que senti com o beijo, como eu não parava de pensar nele um só minuto e que amei vê-la com ciúmes. Não passei em casa como da ultima vez, assim que cheguei a Albuquerque fui logo para a faculdade de Demi, fiquei esperando-a por horas e horas, até finalmente ver os alunos saindo. Foi quando eu a vi, meu coração quase pulou para fora do peito, por um segundo pensei em sair daquele carro correndo. Mas algo aconteceu. Alguém agarrou Demi por trás, virando-a e selando seus lábios. Não sei bem o que senti naquela hora, talvez tristeza e ao mesmo tempo raiva. Reconheci aquele franja loira caindo em sua testa, aquele ar de superior, Alex. A única coisa que fiz foi ligar o carro e sair dali. Eu sempre fui cuidadosa quando o assunto era transito, não havia esquecido a maneira que minha mãe havia morrido, porém naquele dia eu nem estava pensando nisso. Só queria ir para bem longe de Demi e aquele idiota do Alex. Ela foi embora sem deixar explicações para ficar com ele, com certeza teria ido a New York só para me contar e não teve coragem. Parei o carro de qualquer maneira em frente ao supermercado e desci. Peguei uma caixa de cerveja e vários salgadinhos, não iria para casa porque ela poderia ir lá e a ultima que queria era falar com ela. Havia pegado tudo que queria e segui em direção ao caixa, paguei e segui em direção ao estacionamento.
- (SeuNome)? – ouvi atrás de mim e reconheci aquela voz, respirei fundo e continuei andando em direção ao carro – (SeuNome)! 
 Joguei as sacolas no banco carona e adentrei no carro, olhei para o lado e a vi encarando o carro, Demi estava paralisada e seu olhar era uma mistura de confusão e surpresa, balancei a cabeça negativamente e liguei o carro seguindo para o monte que eu havia levado alguns meses antes. 
***

 Estacionei o carro em frente de casa e sai andando até os fundos. Iria embora na manha seguinte, não suportava mais Albuquerque e jurei que nunca mais pisaria ali. Olhei e vi que não havia ninguém na cozinha talvez Dolores estivesse de folga hoje, sabia que papai não estava em casa, por isso iria dormir e de manha cedo iria partir para NY. Segui para meu quarto e joguei-me na cama, olhei para o relógio no pulso e vi que eram seis horas. Eu poderia dirigir até NY, mas estava muito cansada e havia bebido algumas cervejas, dirigir do monte até aqui não era assim tão perigoso, havia pouco movimento tanto de carros como de pessoas. 
 Meus olhos estavam pensando quando ouvi a campainha tocar, pedi para Dolores surgir e atender, mas ela não estava em casa, então decidi que a pessoa tocasse até se ligar que não havia ninguém em casa, mas meu carro estava estacionado em frente de casa. Suspirei e desci as escadas me arrastando, respirei fundo e abri a porta. Eu deveria ter imaginado, ela não sossegaria até falar comigo, perguntar por que eu não falei com ela quando nos encontramos no supermercado.
- Olá – disse dando um sorriso falso.
- Posso entrar? – ela perguntou, dei de ombros e andei em direção a sala – Porque não está em New York?
- Que bela maneira de me receber – disse jogando-me no sofá, Demi foi para frente da TV e ficou um tempo encarando-me – O que foi?
- Porque não falou comigo lá no supermercado? E porque você está aqui e não em NY? – ela começou.
- Não vi você no supermercado e estou aqui porque tenho algumas coisas para resolver – respondi, Demi revirou os olhos e bufou.
- Você está mentindo – esse é o problema das melhores amigas, elas nos conhece até melhor que nos mesmos. 
- É sério, não vi você lá – disse o mais convincente possível, sabia mentir muito bem, mas como disse Demi era minha melhor amiga e me conhecia como ninguém. 
- E o que você está fazendo aqui?
- Já disse, vim resolver alguns problemas – disse – Você deveria saber, mas esqueci que não atendeu minhas ligações e muito menos respondeu meus e-mails. 
- Não venha mudar de assunto – Demi disse defensiva. – Estamos falando de você...
- Não, você está falando de mim – respondi irritada – Se não se incomoda, tenho que dormir porque amanha vou viajar cedo.
- Você está me expulsando? – Demi perguntou sem acreditar, levantei-me e fui até a porta, abrindo-a.
- Entenda como quiser, Demi – disse revirando os olhos, Demi encarou-me por alguns minutos, assentiu e seguiu até a saída, porém antes de sair olhou-me.
- Eu sei que você estava na porta da faculdade – ela disse – E sim, eu e Alex estamos juntos. 
 Isso foi como uma facada, uma não, varias. Demi não poderia ser mais cruel, senti um nó na garganta, respirei fundo e segui até o quarto. Não aguentaria ficar ali nem mais um dia, tinha que ir embora o mais rápido possível, Albuquerque não era minha casa mais, não significava nada para mim, peguei minha bolsa e sai do quarto.
- Vai para algum lugar, querida filha? – o dia não poderia ficar melhor, virei-me e o vi encarando-me.
- Pai – disse acenando com a cabeça, então ele estava ali o tempo todo? Será que havia me visto entrando em casa? Será que ouviu a conversa com Demi? – O senhor estava aí o tempo todo?
- Não respondeu minha pergunta – ele disse sério.
- Só vim... Havia algumas coisas minhas que eu não tinha levado para NY e... – comecei.
- Eu deveria está gritando com você agora por causa daquela festa – ele disse dando alguns passos em minha direção – Aqueles adolescentes inconseqüentes bêbados na minha sala, não foi um dia agradável para mim e com certeza para eles.
- Eu sinto muito – disse – Não irá se repetir.
- E não irá mesmo – ele disse assentindo.
- Vou embora agora e não volto até, sei lá, para sempre – disse e o vi sorrir.
- Você pode fazer isso, mas não agora – ele falou – Seus avôs vem para cá, visitar você e, bem, você não vê seus avôs há anos, certo?
- E quando eles vem?
- Sexta – papai respondeu – E voltam domingo.
- Isso quer dizer que eu...
- Sim, vai ter que passar o final de semana aqui. 

22 de mai. de 2015

9.

"Don't you remember I'm your baby girl? How could you push me out of your world..." - For The Love of a Daughter.
2014.
 Lílian havia me ligado depois que sai do apartamento de Louis. Meu pai queria me ver, com certeza queria saber por que estava faltado todos esses dias o trabalho. A porta do elevador abriu e rapidamente sai, enquanto andava até a sala do velho, pude sentir os olhares em mim. 
- Seu pai esta lhe esperando – ouvi atrás de mim, virei-me e a vi. Seus cabelos loiros sobre os ombros, uma blusa de botões vermelha e uma saia acima dos joelhos, Lílian me olhava por cima dos óculos e tive a impressão de vê-la morder o lábio. – Vou anunciá-la.
- Não precisa – virei-me e abri a porta. Ele estava falando com alguém ao telefone.
- Estou aqui – disse, ele olhou-me por alguns minutos, girou a cadeira e continuou a falar. Revirei os olhos e cruzei os braços, finalmente ele se despediu e virou-se a cadeira, encarando-me.
- (SeuNome) – ele disse.
- Fala logo o que você quer, pai – disse impaciente, ele deu um sorrisinho sínico.
- Quero saber por que você não esta vindo para empresa – ele disse e eu não pude deixar de sorrir, ele só poderia esta brincando, era alguma pegadinha. – Qual o motivo do sorriso?
- Minha esposa esta em coma em um hospital com poucas chances de sobrevivência – disse sentindo a raiva em minha voz – E você esta preocupado porque eu não estou indo trabalhar?! Você por acaso tem algum problema mental ou algo do tipo?!
- Isso é modo de falar com seu pai?! – ele disse agora parecendo irritado, fechei os olhos e contei de um até dez para não pular em cima dele – Eu estou sabendo e sinto muito pelo o ocorrido.
- Vou fingir que acredito, pai – disse irônica – Tenho que ir agora, porque tenho que ficar...
- E quando você voltará? – ele perguntou sério.
- Não se preocupe – disse – Não irei quebrar o acordo, não quebrei durante quatro anos e não será agora que irei fazer isso.
 Nem me despedi, nunca gostei daquele local, se não fosse pelo acordo eu nunca mais pisaria ali.
- (SeuNome)! – ouvi e reconheci a voz, virei-me e a vi vindo em minha direção.
- Oi Lílian – disse apertando o botão do elevador.
- Queria saber se está bem – ela disse ficando a alguns metros de mim, lancei um sorriso sem mostrar os dentes e assenti. – Você não anda atendendo minhas liga...
- Ele passa o dia quase todo na bolsa – disse – E às vezes nem o escuto.
- Como esta Demetria? 
- Na mesma – respondi e logo o elevador chegou, antes de entrar, senti sua mão em meu ante-braço.
- Qualquer coisa... – ela disse, assenti e puxei meu braço, entrando no elevador.
...

Abri a porta do apartamento esperando ver alguém esperando-me, talvez os pais de Demi ou seus amigos, mas a única coisa que vi foi a sala silenciosa. Subi as escadas pensando na conversa que tive com papai. Eu não iria quebrar o acordo, disse que tomaria conta de tudo e fiz isso durante esses quatro anos. Trabalhar naquela empresa era a pior coisa que tinha me acontecido, mas se não fosse por ela, eu não estaria morando nessa cobertura em Manhattam, não tinha dinheiro suficiente para comprar jóias, roupas caras ou bolsas para Demetria. Fui interrompida de meus pensamentos quando vi a porta do quarto entre aberta. Em passos lentos dei uma olhada, odiava quem entrasse em meu quarto a não ser a empregada. 
- O que faz aqui, Madison? – a surpreendi adentrando no quarto, Madison estava sentada na cama com uma caixa sobre as pernas, segurava algumas fotos e havia algumas sobre a cama ao seu lado, eu sabia muito bem que caixa era aquela.
- Eu... – ela gaguejou, mas continuou com as fotos nas mãos.
- Sabia que é feio pegar as coisas dos outros sem permissão? – disse pegando a caixa de suas mãos – E eu odeio quem mexe nas minhas coisas.
- Isso não é só seu – ela disse – É da Demi também.
- Mas ela não está aqui – disse irritada.
- E você está adorando né?
- Sai do quarto, garota! – disse alto, Madison ficou encarando-me por alguns minutos, deixou as fotos que segurava em cima da cama e saiu, mas quando chegou perto da porta, virou-se encarando-me.
- Ás vezes fico me perguntando se essa (SeuNome) feliz e legal das fotos é a mesma (SeuNome) amarga e fria que eu vejo agora – E saiu, sentei-me na cama e passei as mãos pelo os cabelos, e antes mesmo que eu pudesse evitar, as lágrimas já saiam. Olhei para o lado vi uma foto, minha e de Demi, não era apenas uma foto, era a nossa primeira foto como namoradas. Peguei e fiquei encarando-a por minutos. Com certeza a (SeuNome) da foto era outra pessoa completamente diferente dessa (SeuNome) de hoje.

...
-... A cirurgia na coluna foi um sucesso – ouvi o médico falar para Dianna e Eddie.
- E agora? – Dianna perguntou.
- Bem, vamos esperar – ele disse por cima dos óculos – Ela ainda esta em coma profundo e...
- Tem quarenta por centos de chance de sobrevivência – respondi, o médico falou mais alguma coisa para Dianna e logo depois saiu.
- Pensei que não viesse hoje, afinal você passou o dia... – Dianna começou, porém logo a interrompi.
- Não lhe devo explicações – disse e fui ate o sofá sentando-me, Dianna e Eddie sentaram-se no sofá ao lado, pude ouvi-los cochichando, com certeza falando mal de mim.
- Filha – ouvi e quase não acreditei, olhei o vulto que estava parado em minha frente e achei que estivesse sonhando.
- Pai? O que... O que faz aqui? – perguntei levantando-me.
- Lembrei que não havia visitado Demetria depois do acidente – ele disse e vi que estava incomodado por está ali.
- George – ouvi a voz de Eddie e logo papai virou-se.
- Eddie – os dois se cumprimentaram com um aperto de mão – Dianna.
- Olá George – ela o cumprimentou – Quanto tempo, não?
- Sim – papai disse – Sinto muito pelo o que aconteceu com Demetria, espero que ela fique bem.
- Também esperamos – Dianna respondeu dando um suspiro.
- Podemos conversar? – ele perguntou encarando-me.
- Se for para discutir sobre minha ausência no escritório...
- Não é sobre isso – ele interrompeu-me, mordi o lábio e assenti. Deixei meu casaco sobre o sofá como um aviso que eu voltaria e o segui até os elevadores. Chegamos até a cantina do hospital, havia várias mesas vazias, logo papai seguiu até lá.
- O que veio fazer aqui verdadeiramente? – perguntei sem delongas sentando em uma cadeira.
- Como disse, visitar...
- Não sou burra, pai, sei que não sairia da empresa por um motivo desses.
- Não tenho muito tempo - ele disse – Só quero que saiba que me importo com sua vida e você pode até pensar que o acordo foi para lhe dá uma lição, mas não foi, (SeuNome).
- Vai logo ao ponto.
- Me preocupo com você e com Demetria também, afinal ela é sua esposa – ele deu uma pausa – Sei o que você esta passando, filha, sei como é ver a pessoa que você ama com poucas chances de sobrevivência, eu passei por isso com sua mãe e não quero que você passe por isso também.
- Ainda não estou entendendo – disse sentindo um nó na garganta por lembrar de mamãe.
- Irei fazer de tudo para que Demetria saia daqui viva com você do lado – ele meteu a mão no paletó que estava, puxando um papel de lá - Aqui é um cheque, sei que esse hospital é um dos melhores, mas existe outros melhores que ele.
- Pai...
- Posso não parecer um pai amoroso, carinhoso que apóia a única filha, mas ainda sou um pai.

16 de mai. de 2015

8.

"You can't stop this girl from falling more in love with you..." - Stop The World.
2008
 Minha amizade com Demi começou a ficar estranha. Não costumávamos ter espaço entre nossas conversas, mas agora tinha. Poderíamos falar de namoro, mas agora não podíamos mais. Se ela falasse do Alex, eu ficava irritada, se eu falasse que qualquer garota de NY, ela ficava irritada. E a tensão era quase sempre presente em nossas conversas. Aquilo estava acabando comigo, não queria ficar assim com minha melhor amiga, a pessoa que eu amava e confiava mais do que todos nesse mundo.
- Ainda com o problema do beijo? – Jess era minha companheira de quarto naquela época, vendíamos quadros juntas, pintávamos juntas, era minha única amiga, claro, fora Demi. Havia contado para ela sobre o beijo, Jess sempre tinha os melhores conselhos.
- Sim – disse limpando as mãos no avental. Estávamos no quarto que servia de ateliê, sempre que estava com problema ou apenas tendo inspiração ia até lá e começava a pintar. 
- Então decidiu pintar? – ela perguntou olhando para o quadro que eu havia pintado – Ela?
- Não consigo tirá-la da cabeça – respondi também olhando para a tela – Costumo pintar para esfriar a cabeça, mas sempre que pego em um pincel, seu rosto vem em minha cabeça.
- Isso se chama...
- Não fale – disse olhando-a – Eu e Demi somos... Ela é minha melhor amiga, não podemos...
- E porque você não para de pensar nela? – Jess perguntou cruzando os braços. – Aquele beijo mexeu com você, não foi? Então você não para de pensar nele, e o pior de tudo, como quer sentir os lábios dela novamente.
- Quem é você? Deus? – perguntei sorrindo. – O que eu faço? Nossa amizade está indo para o buraco e eu não sei o que fazer. 
- Talvez amizade esta indo para o buraco, porque o que vocês sintam não seja só amizade.
- E eu devo fazer o que? – perguntei.
- Sei lá, conversar com ela – Jess disse e então escutamos a campainha tocar – Deve ser o Charlie, iremos comemorar dois anos de namoro.
- Feliz aniversario de namoro para vocês! – gritei vendo-a sair, peguei o pincel e olhei para o quadro.
- O que esta fazendo com minha cabeça, Demetria? – disse e voltei a pintar, terminando os detalhes do seu sorriso que era a melhor coisa nela.
- Belo quadro – ouvi atrás de mim, porém não virei-me para olhar quem era, estava bastante concentrada – Quem é?
- Uma amiga – respondi querendo encerrar o assunto.
- Como é o nome dela? – a pessoa perguntou novamente, revirei os olhos, porém respondi.
- Demetria.
- E ela mora aqui? – voltou a perguntar, decidi mandar a pessoa embora, senão acabaria errando alguma coisa, virei-me e deixei o pincel cair de minhas mãos por conta da surpresa.
- Demi?! – não sabia se chorava, gritava ou a abraça – O que esta... Como...?
- Uma pergunta de cada vez – ela disse sorrindo – Preciso de um abraço agora.
- Nem precisa pedir duas vezes – respondi e corri para seus braços. O abraço foi diferente naquele dia, sentíamos saudades uma da outra, era claro, porém de uma forma diferente. Não queria solta-la e muito menos ela queria isso, então ficamos abraçadas ali, com meu avental com respingos de tinta sujando sua roupa.
- O que esta fazendo aqui? – perguntei quando finalmente nos separamos – Vem, vamos sair daqui.
- Não, é a primeira vez que estou aqui – ela disse olhando em volta – É lindo.
- Eu sei, mas não é lugar para visitas, principalmente uma visita como essa – disse tirando o avental e jogando em cima de uma cadeira. A puxei porta a fora, seguindo para a sala.
- Então, me conte tudo – disse indo até a cozinha e pegando duas cervejas.
- Peguei o carro e vim fazer uma visita – ela respondeu assim que me sentei ao seu lado – Você sempre ia para Albuquerque me ver, porque não ir até New York para ver você?
- Ótima resposta – respondi dando um gole em minha cerveja – Agora me conta o real motivo.
- Quero conhecer o local – ela respondeu – Já que pretendo me mudar para cá em breve.
- Você não esta falando serio.
- Mas sério que isso, só meu pai me mandando fazer medicina – ela respondeu e não pude evitar o sorriso.
- Isso é tão incrível – disse – Quanto tempo você pretende ficar?
- Até ele perceber que não estou indo a faculdade e perceber que seu carro sumiu.
- Ótimo então, até que ele não perceba, temos que comemorar – disse levantando-me.
...

 Eu não era muito fã de festas, sempre que eu, Jess ou Charlie saímos íamos a um pub no mesmo quarteirão, lá era onde todos os artistas de rua se encontravam. O lugar era bem diferente, era um local pequeno, as únicas luzes eram dos abajures que ficavam em cima das mesas e algumas luzes que ficava nas paredes, mesmo assim o local era bastante mal iluminado, havia varias mesas espalhadas pelo local e bem no fim havia um pequeno palco onde qualquer pessoa – qualquer pessoa mesmo – podia subir lá e cantar. Poderíamos ir a uma boate de NY, porém preferíamos esse lugar, era o nosso lugar. 
- Bem vinda à casa dos artistas de rua – disse adentrando no local, eram nove da noite e o pub estava cheio, havia uma banda que cantava – muito bem por sinal – It’s My Life do Bon Jovi. Sentamos em mesa perto do palco, eu, Demi, Jess e Charlie.
- Então Demi, é um prazer finalmente conhece-la – Charlie disse sorrindo.
- Finalmente conhecemos a garota que (SeuNome) vive falando – Jess disse amigavelmente – Demi isso, Demi aquilo, você tem que ver.
- Cala a boca, Jessica – disse revirando os olhos.
- Mas é verdade – Jess disse – Enfim, o que você faz lá em Albuquerque, Demi?
- Estou na faculdade – Demi respondeu – De medicina.
- Pelo menos não é direito – Charlie falou e começou a rir, logo Jess se juntou a ele.
- Me deixa adivinhar, seu pai te pediu isso, certo? – Jess disse depois de recompor. 
- Exatamente – ela respondeu um pouco incomodada, lancei um olhar nada agradável para Jess.
- Iremos pedir as bebidas – Charlie falou e logo seguiu com Jess para o bar.
- Eles são fofos juntos – Demi disse após ele saírem.
- É, mas tenho que sair do apartamento quando eles estão “animados” – disse e a vi sorri.
- E você? Quer dizer, eles também não tem que sair quando você esta “animada”? 
- É diferente – disse dando de ombros – Não vou para o apartamento. 
- Porque não?
- Vamos mesmo falar sobre isso? – perguntei encarando-a, Demi assentiu e virou-se. – Não ficou com raiva, né?
- Não, tudo bem – Demi disse, porém sabia que ela estava – Sabe, não sei se esta reparando, mas nossa amizade anda estranha. 
- Eu reparei sim – disse e Demi virou-se para mim – Isso começou depois do...
- Do beijo? Acho que não – Demi disse e arqueou as sobrancelhas – Ta, foi sim depois do nosso beijo.
- Acho... – comecei, porém fui interrompida, não pode Demi, mas sim por Jess.
- (SeuNome)! – ela chamou, olhei e a vi vindo em nossa direção, logo atrás Charlie tentava se equilibrar para as quatro bebidas que trazia para não cair.
- O que foi? – perguntei.
- Adivinha quem está aqui – ela disse, arqueei as sobrancelhas confusa.
- Quem?
- Sério que você não tem nenhuma ideia? – ela perguntou desapontada.
- Fala logo, Jess – disse impaciente.
- Maya Santine – Jess respondeu e eu arregalei os olhos. Maya foi à primeira mulher que eu havia me envolvido realmente, havia ficado com algumas garotas, porém nunca namorado, Maya foi minha primeira namorada. 
- Cadê aquela vadia? Quero dá na cara dela – Demi disse irritada, a encarei.
- Ei calma, Demi – disse sorrindo – Você não irá bater em ninguém.
- Até porque ela esta vindo para cá – Charlie disse e virei-me e realmente Maya estava vindo em nossa direção, os cabelos pretos soltos, a pele bronzeada, aquelas curvas... 
- (SeuNome)? – ela disse parando perto da nossa mesa – Meu Deus, que coincidência.
- Que filha da puta – ouvi Demi sussurrar, mordi o lábio para não sorri e levantei-me.
- Maya – disse cumprimentando-a – Pura coincidência, afinal foi aqui que nos conhecemos.
- Podemos conversar? – ela perguntou um pouco envergonhada.
- Não posso – disse voltando a me sentar – Não posso fazer uma desfeita dessas com meus convidados.
- Prometo não demorar – ela insistiu.
- Não ouviu o que ela disse? – Demi disse irritada.
- Não, quer saber? Vou ouvir o que você tem a dizer – disse levantando-me, Maya sorriu vitoriosa – Cinco minutos.
- Obrigada – ela pediu e logo seguimos para o bar, olhei por cima do ombro e Demi estava lançando um olhar mortal para mim. Chegamos até o bar, sentei-me em um banco e logo Maya fez o mesmo.
- Então, o que quer? – perguntei.
- Eu queria pedir desculpas – ela disse – O que eu fiz com você não foi certo...
- Acabou com o showzinho?
- Estou falando serio, (SeuNome) – ela disse desviando o olhar para o chão – Eu realmente estou arrependida por ter feito... Não foi certo sumir no dia seguinte, eu sinto muito.
- Certo, aceito suas desculpas – disse e a vi me encarar surpresa, mesmo assim logo depois sorriu – Amigas, certo?
- Amigas? – ela falou desanimada, assenti e a vi aproximar – Estava pensando em...
- Em nada – disse afastando-me – Agora vou voltar, adeus Maya.
 Virei-me e segui em direção a mesa, Demi tinha um sorriso de lado, com certeza viu o que tinha feito, sorri para ela, porém senti alguém puxar-me pelo o braço e eu sabia muito bem quem era. A conheci não só por seu perfume, mas pelo os seus lábios, era Maya quem havia me puxado e me beijado. 
- Sabia que você não resistiria – Maya sussurrou perto do meu ouvido.
- Você que não resistiu ao meu charme – respondi balançando a cabeça negativamente e indo em direção a mesa, porém apenas Jess e Charlie estavam sentados.
- Onde esta a Demi? – perguntei sentando-me e logo vi Maya fazer o mesmo.
- Ela saiu – Jess respondeu bebendo um pouco de sua bebida.
- Para onde? – perguntei e peguei minha bebida.
- Não sei, ela ficou vermelha e saiu – foi Charlie quem respondeu. Levantei-me rapidamente, Demi havia ficado com ciúmes, isso era fato, mesmo assim não sabia se ficava feliz por isso, ou se ficava preocupada, já que ela estava por aí sozinha, em uma cidade que mal conhecia.
- Vou procura-la – disse e olhei para Maya – Volto já. 
 E logo sai em direção a saída, avistei Demi sentada no meio fio, me aproximei e sentei-me ao seu lado.
- Cansou da vaca? – ela perguntou revirando os olhos. 
- Sabia que você fica super fofa com ciúmes – disse e a vi encarar-me com as sobrancelhas arqueadas.
- E quem disse que eu estou com ciúmes? – ela perguntou e eu sorri – Para de sorrir, idiota!
- Vamos voltar lá para dentro – disse levantando-me.
- Quero ir embora – ela disse sem olhar-me.
- Acabamos de chegar, Demi – disse.
- Mas eu quero ir, você vai me deixar sim ou não? – Demi perguntou finalmente olhando-me – Já entendi, não vai, okay, me passa o endereço.
- Não passo não – disse e me agachei ao seu lado – Viemos comemorar a sua visita a NY, não vou deixá-la...
- Você já deixou, (SeuNome) – ela respondeu seca, engoli o seco e levantei-me.
- Irei buscar a chaves do carro – disse encarando o chão.
- Quer saber? Não precisa, esqueci que tenho o endereço – ela disse levantando-se, mordi o lábio e finalmente a encarei.
- Te vejo depois – respondi, Demi forçou o sorriso e deu sinal para o táxi, logo um carro amarelo parou, Demi abriu a porta e olhou-me.
- Tchau – disse vendo-a adentrar no táxi e logo o mesmo deu partida.
 Não consegui me animar naquela noite, nem mesmo Maya me animou, disse que não estava a fim de nada e ela foi embora, pelo menos não a vi mais no pub naquela noite. A única coisa boa foi que eu havia bebido, Jess e Charlie já estavam bêbedos e cantavam uma musica do R.E.M em cima do palco, sabia que depois dali eles iram dizer que estavam cansados e iriam para casa, só que eles não estavam cansados, só queriam ir para casa e fazer sexo. 
 Quando cheguei em casa, Jess e Charlie foram para o quarto e eu fui para o meu, Demi estava dormindo na cama. Tomei um banho bem demorado, vesti uma roupa confortável e deitei-me.
- O que esta fazendo? – ouvi Demi sussurrar, não pude deixar de sorrir.
- Deitando na cama para dormir? – sussurrei perto de seu ouvido.
- A noite não foi boa? O que aconteceu com a Maya?
- Sério mesmo que você vai discutir uma hora dessas? – perguntei e a vi virar-se para encarar-me.
- Desculpe por agir daquela forma – Demi falou baixo, sorri e me aproximei mais dela.
- Eu entendo – respondi escutando sua respiração – E foi totalmente fofo.
- Ciúmes não é fofo.
- Então você assume que sentiu ciúmes – sussurrei, mas queria gritar naquela hora, mesmo com as luzes apagadas sabia que qualquer pessoa poderia ver meu sorriso.
- Assumo e com muito orgulho.

13 de mai. de 2015

7.

"She had a world of chances, chances you were burning through..." - World of Chances.
Ano de 2014.
 A casa estava extremamente silenciosa. Havia passado algumas horas desde que voltei do hospital. Agora Dianna e Eddie estavam lá, assim como Selena e Dallas. Miley e Nick haviam saído, assim como eu. Nunca me senti tão sozinha ali dentro, sem a voz de Demi, sentia falta do som de suas risadas e até mesmo dos seus gritos, eu sentia falta dela. Tomei coragem e levantei-me, seguindo em direção as escadas. Eu não tinha animação para nada, nem para sair ou para trabalhar. Queria apenas que Demi saísse daquele hospital logo. 
 Assim que tirei o casaco, joguei em cima da cama e vi que algo havia caído dele, era um cartão, abaixei-me e vi. Era um endereço e logo abaixo havia escrito de quem se tratava, Louis. Sorri em ver que poderia desabafar com alguém, Louis já foi meu amigo e algo me dizia que ele queria voltar a ser novamente. Tomei um banho rápido e vesti a primeira roupa que vi, peguei uma bolsa e as chaves do carro. 
 Enquanto dirigia até o tal endereço, mal conseguia respirar, nesses últimos dias ia do hospital para casa e de casa para o hospital, estava contente em finalmente sair daquela rotina. Estacionei o carro em frente a um apartamento que há muito tempo não via uma reforma, olhei pela redondeza e todos pareciam do mesmo jeito, respirei fundo e subi as escadas, toquei o interfone e demorou alguns minutos até finalmente atender.
- Pois não – ouvi a voz com um pouco de dificuldade.
- O Louis se encontra? – perguntei.
- Que Louis? – a voz voltou a perguntar.
- Louis... – tentei lembrar do sobrenome – Louis Tomlinson.
- E quem deseja falar com ele? 
- (SeuNome) Forman – respondi.
- (SeuNome)! Meu Deus! É você, pode entrar – era a mesma voz e parecia animada – Apartamento quatro. 
 Abri a porta e senti um cheiro de mofo penetrar em minhas narinas, o lugar estava deserto, havia algumas portas e logo a frente havia uma enorme escada. Respirei fundo e comecei a subir as escadas, logo cheguei ao andar de cima, olhei as portas e vi um quarto enorme e prata. Andei até lá e rapidamente bati na porta, logo ouvi o som de trancas e rapidamente vi um Louis sem camisa atender a porta.
- Você veio – ele disse sorrindo – Entra. 
 O apartamento era bem arrumado, um balcão separava a sala da cozinha, havia um sofá bege, uma mesinha de centro onde havia varias revistas, uma televisão e uma porta que deduzi ser o quarto de Louis. Sorri em lembrar do apartamento que morava quando vim para New York.
- Desculpe a bagunça – ele disse enquanto sentava-me no sofá – Sei que você já entrou em casas melhores...
- É perfeito, Louis – disse sorrindo, ele deu um sorriso tímido. – Me faz lembrar do meu antigo apartamento.
- Quer beber alguma coisa? Café? Chá? Cerveja? – ele perguntou.
- Uma cerveja – respondi e o vi ficar surpreso, porém logo assentiu e seguiu em direção a cozinha. 
- Então, como está? – pude ouvi-lo da cozinha.
- Do mesmo jeito desde a ultima vez que nos encontramos – respondi com um suspiro, logo Louis voltou trazendo duas cervejas e sentando-se ao meu lado.
- Eu sinto muito pelo o que aconteceu com sua esposa – ele disse abrindo a garrafa e bebendo um pouco – Andei pesquisando sobre você.
- Obrigada – respondi fazendo o mesmo com minha cerveja.
- Como ela está? – Louis perguntou.
- Com quarenta por cento de chances de sobreviver – respondi e ficamos em silencio, um silencio agradável. 
- Suponho que queira conversar – ele disse depois de algum tempo, tomei outro gole e assenti. – Sou todos ouvidos. 
 Contei tudo a ele. Contei sobre o acidente, sobre o motivo do acidente, também contei sobre minha vida com Demi. Sem deixar nada escapar e quanto mais eu contava, repassava a historia em minha cabeça e pensava em como a nossa historia se desfez tão rapidamente. Éramos amigas, sempre fomos e logo depois nos tornamos namoradas, amantes. Porém quando pensamos em oficializar, nosso relacionamento caiu. Os dois primeiros anos eram perfeitos, mas logo veio minhas horas extras no escritório, ajudando meu pai a administrar os hotéis pelo país. Acabava chegando tarde em casa e Demi pensando que eu estava traindo-a, até finalmente trair verdadeiramente. 
- Nossa! – Louis disse por fim.
- Você me odeia agora, não é? Como os outros – disse encarando-o, Louis mordeu o lábio e balançou a cabeça negativamente.
- Não odeio você, (SeuNome) – ele disse – Mas também não posso dizer que o que fez com Demi foi certo.
- Eu sei disso, Louis – disse assentindo – Eu fui uma péssima parceira para ela, eu...
- Mas você não era assim, certo? – ele perguntou – Você já a amou?
- Muito – respondi – Mais que minha própria vida.
- E você ainda a ama?
- Claro que sim, Louis.
- Desse jeito? Mais que sua própria vida? – Louis perguntou, mordi o lábio, eu nunca deixei de amar Demi, mesmo com todas brigas... 
- Sinceramente? Eu não sei responder – disse e Louis assentiu.
- Eu não sou muito bom de relacionamentos, estou com a mesma pessoa há anos, mesmo assim vou lhe da um conselho – ele disse – Não sei muito bem a historia completa de vocês duas, porém pelo o que você me contou, vi que não só seu casamento, mas também a amizade que vocês tinham se desgastou com o tempo.
- E você acha que meu relacionamento com ela pode voltar como era antes?
- Talvez – ele disse – Mas só depende que você queira isso, e você quer (SeuNome)? Você quer voltar a ter um verdadeiro relacionamento com Demi?

6.

"When your lips are on my lips, then our hearts beat as one..." - Give Your Heart a Break.
Ano de 2008 – 2/2
 O seu olhar era de espanto e ódio, ele não havia me encontrado, o que era uma coisa boa.
- Vamos dá o fora daqui – sussurrei e nem esperei sua resposta, apenas peguei em sua mão e corri em direção a saída, sem olhar para trás, saímos pela porta dos fundos e corremos até meu carro.
- Você tá louca?! Deixar aquele pessoal lá com seu pai?! – Demi disse enquanto procurava as chaves do carro pelo mesmo – (SeuNome), eu estou falando com você!
- Não tenho tempo agora – disse achando a chave no porta luvas – Isso! 
- Você se drogou, só pode – ela disse balançando a cabeça negativamente.
- Iremos conversar, só que não agora – disse ligando o carro e saindo dali.
- Calma, garota! Você vai nos matar! – ela pedia, porém era tanta adrenalina correndo em minhas veias que eu mal a ouvia, respirei fundo e diminui a velocidade – Seu pai vai te matar.
- Eu sei disso – respondi e comecei a sorrir, logo Demi também estava sorrindo – Ele deve esta expulsando os nossos convidados aos tapas.
- Saiam daqui crianças malditas! – Demi disse imitando sua voz.
- Saiam daqui, mas não pisem no meu lindo carpete – disse sorrindo. Ficamos fazendo esse “jogo” até finalmente pararmos no monte onde estávamos no começo do dia. 
- Você nunca mais irá pisar na sua casa novamente – Demi disse saindo do carro.
- Nunca mais irei pisar aqui – respondi sentando-me no capô do carro, logo Demi fez o mesmo. Ficamos em silencio por alguns minutos, tentando se recompor do que tinha acabado de acontecer.
- Mas uma coisa eu o agradeço – Demi disse depois de um tempo – Ele impediu que você ficasse com Natalie. A Natalie, (SeuNome), serio mesmo?
- Qual o problema? Eu fui a fim dela, lembra? E você sempre dizia que eu deveria falar com ela.
- Naquele tempo, hoje em dia ela é uma vadia – Demi disse – Ela não é mulher para você.
- E quem é mulher para mim, Demi? – perguntei encarando-a, Demi engoliu o seco e desviou o olhar.
- E além disso, o que você vê nela? – Demi perguntou.
- O que você vê no Alex? – rebati.
- Estamos falando da Natalie, não do Alex – ela respondeu olhando-me.
- Certo, chorona – disse sorrindo e logo Demi me deu um tapa no braço – Mas respondendo sua pergunta, ela é bem gostosa.
- Gostosa? Ela é uma vareta! – Demi disse, fazendo com que eu sorrisse.
- Quer saber de uma coisa? Você esta com ciúmes – disse e a vi arquear as sobrancelhas.
- Ciúmes? De você? Vai sonhando – ela disse olhando para frente, mordi o lábio e aproximei-me do seu ouvido.
- Admita, Demetria – sussurrei – Você morre de ciúmes de mim.
- Vai... – ela disse virando-se, quando percebi já estava centímetros de seu rosto, não sabia se encarava seus olhos ou seus lábios. Demi para mim era uma irmã, sempre foi, mas depois desse ano que passamos sem nos ver, ela tinha mudado. Eu não a via como uma irmã, eu a via com uma mulher. 
- Aposto que o meu beijo é melhor que o dela – Demi sussurrou.
- Eu aposto que não, afinal nunca experimentei – respondi e apenas senti seus lábios colidirem com os meus. Eu nunca havia pensando em beijar Demi, sinceramente. Nem quando estava começando a me descobrir, eu nunca pensei nela desse jeito. Mas hoje, ali, com nossas línguas tocando-se suavemente, como se fosse feitas uma para a outra, eu pensei nela desse jeito. Por impulso, peguei em sua cintura e a apertei contra mim, Demi passou uma perna por um lado de minha cintura, ficando sentada em meu colo. Seus braços estavam em meus cabelos, puxando-o fazendo-me dá gemidos, enquanto minhas mãos subiam e desciam pela lateral da sua cintura. Então aquilo começou a ficar intenso, estava começando a ficar excitada e com certeza Demi também, foi quando separamos o beijo pela falta de ar. Demi rapidamente saiu do meu colo, voltando a sentar-se ao meu lado. Ficamos em silencio por alguns minutos, tanto eu quanto Demi tentávamos nos recompor do que havia acontecido.
- Acho que bebemos demais – ela sussurrou com a voz falha.
- Acho que nunca estive tão sóbria em toda minha vida – disse olhando para frente.  
***

  Naquele dia, quase que dormir no carro. Não poderia voltar para casa, meu pai com certeza estaria me esperando e não poderia dormir na casa, principalmente no quarto de Demi depois do que tinha acontecido. Enquanto dirigia até a casa de Demi, o clima ficou tenso entre nós duas, o beijo tinha mexido com ambas. 
 Não consegui dormir, afinal estava desconfortável no carro e ainda não parava de pensar no beijo, de como me senti ao ter os lábios de Demi, o corpo dela... Estava tão confusa que nem vi quando alguém se aproximou do carro e deu algumas batidinhas na janela.
- Se quiser roubar alguma coisa, fique sabendo que estou armada – disse olhando para a sobra do vidro.
- Não, você não esta – reconheci a voz, ajeitei-me e baixei o vidro.
- Que susto garota, quer me matar?
- Matar você seria uma pena – Demi respondeu sorrindo.
- O que faz aqui? – perguntei abrindo a porta do banco de trás, vendo-a entrar. 
- Não consigo dormir – ela disse assim que se sentou ao meu lado, mantendo certa distancia. – Minha consciência esta pesando, tenho uma cama confortável lá em cima, enquanto você tem esse banco duro.
- Que prestativa – disse debochando.
- Você é muito difícil de agradar, pelo amor de Deus – ela disse – Quer dormir comigo lá em cima, sim ou não?
- Rápida você, não?
- Palhaça você, não? – ela rebateu, balancei a cabeça negativamente e assenti.
- É um banco duro mesmo, prefiro sua caminha quentinha – disse e a vi sorrir – Mas nada de se aproveitar de mim.
- Digo o mesmo – ela respondeu e seguimos até seu quarto, estava fazendo piadinhas, mas aquele beijo ainda não saia da minha cabeça, Demi deitou-se primeiro e pude ver o shortinho que ela usava, mordi o lábio tirando os pensamentos impróprios de minha mente. 
- Vai ficar ai mesmo? – ela disse olhando-me, assenti e deitei-me ao seu lado, encolhendo-me de um lado da cama, Demi olhou-me com as sobrancelhas arqueadas. – O que esta acontecendo com você? Quando dormíamos juntas, era eu quem me encolhia, porque você sempre tomava a metade da cama. 
 Ajeitei-me na cama e virei-me, estava de frente para Demi, conseguia ouvir sua respiração.
- Você vai embora amanhã? – ela perguntou e senti seus pés se entrelaçarem nos meus, como fazíamos antigamente. 
- Tenho que ir – respondi olhando-a. 
- Não quero que você vá – ela sussurrou baixinho.
- Não quero te deixar aqui – disse e senti que ela se aproximava de mim – Mas você pode vim comigo.
- Não posso.
- Porque não? Sei que medicina não é o que você quer, Demi – sussurrei – Meus companheiros de quarto iram se mudar, não quero ficar naquele apartamento sozinha.
- (SeuNome), você sabe que eu não posso, meus pais... – ela começou, porém eu logo a interrompi.
- Seus pais não deixariam, eu sei, você já me disse – respondi – Mas você tem 21 agora, atingiu a maioridade.
- Não vamos falar sobre isso agora, por favor – ela pediu, suspirei e ficamos em silencio. – Foi perfeita.
- A festa? Foi um desastre, isso sim, meu pai apareceu e... – comecei, mas Demi interrompeu.
- Não estou falando da festa – ela respondeu baixinho, como se estivesse contado um segredo e aquele quarto estivesse lotado de pessoas, abri um enorme sorriso e senti seus lábios em contado com os meus, porém não passou disso.
- Boa noite – ela sussurrou e por fim, senti virar-se, aproximei-me do seu corpo e passei meus braços por sua cintura. 
- Boa noite. – e mal sabia eu que dormiria assim para sempre, pelo menos antes de tudo começar a desmoronar.